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CATÁLOGO DE VIX ESTÓRIAS CAPIXABAS

Júlio Martins — Arnaldo Baptista, eu me emociono com a maneira com que você consegue, a partir de recursos tão simples, extrair tanta poesia das imagens. Vejo que você estabelece relações entre dados da realidade, que parecem fazer algo reverberar como um som. Como você descreveria esses dois desenhos? 

Arnaldo Dias Baptista — Sou um ser que faz parte de uma humanidade religiosa e careta, e que às vezes encontra uma estrada aberta à minha frente, de onde tento extrair aquilo que tem de melhor diante de mim.

Tenho muitos apetites e alimentações. Às vezes me sinto um moleque em frente do papel.  Entro em uma etapa  de arte que chamo de exorealismo, algo além do tangível. Então, exorealismo é quando coloco o que está fora de vista dentro do tangível e palpável.  Como à noite, na cama, pensando: aonde seria o lado ideal para se estar no momento presente? Então, entro em exo. E o lado real é quando ele percebe que está respirando e é ar, em um sentido total.

Nos desenhos uso materiais que me lembram a infância. Eles estão muito prontos pra mim – entro em contato com a presença de uma mão, um rosto, uma paisagem, uma mulher bela … Esse contato que eu tento exprimir é onde a física encontra seu limite, porque são realidades exotéricas. Eu tento assumir uma postura de quem está sentado em um trono, de onde se vê a Terra. E tenta colher o melhor fruto dali, tanto no que diz respeito ao sabor e ao prazer de comer, quanto também para ter energia para continuar vivendo. O sentido total, me interessa. Tenho a impressão que posso ser chamado por idealista, mas quero extrair o melhor daquilo que possuo. Assim, fico sempre satisfeito.

Nesse desenho, o leão é o rei dos animais e o átomo é o rei do minúsculo. Esse contraste pode parecer supérfluo, mas para mim é importante. As linhas são o pensamento dele e as reverberações são capazes de multiplicar os nossos desejos. Você falou que ouviu a música do mundo nele, né? A palavra “pesquisa” é importantíssima na minha vida. Eu tento ampliar meu conhecimentos do total. Meus desenhos são a comunicação da minha presença no universo.

Nesse outro desenho, o gato se sente feliz. Ele se chama Félix, que é feliz em latim.  

Entrevista realizada em 15 de junho de 2021