ARNALDO BAPTISTA 7.6

76 ANOS, 76 OBRAS

Ação Celebrativa

Arnaldo Dias Baptista disponibiliza 76 pinturas em papelão paraná para venda. E propõe uma série de diálogos e conteúdos sobre a mais
ampla inclusão de artistas self thought e neurodivergentes no mercado das artes visuais, ainda mais em um cenário cultural
bem mais oprimido e ameaçado hoje.

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“Sou um ser que faz parte de uma humanidade religiosa e careta, e que às vezes
encontra uma estrada aberta à minha frente, de onde tento extrair aquilo que
tem de melhor diante de mim… Tenho muitos apetites e alimentações…
Às vezes me sinto um moleque em frente do papel”,  Arnaldo Dias Baptista

No contínuo trabalho pela preservação, valorização, acesso e continuidade das obras visuais de Arnaldo Dias Baptista, entramos no ar com uma ação-presente em celebração de seu 76º aniversário, que promoverá a venda de parte de suas obras criadas desde a pandemia, além de outras iniciativas, detalhadas mais adiante.

Estas 76 obras fazem parte das pinturas em acrílico e mixed media sobre papelão paraná, 32×40 cm, e estão sendo disponibilizadas a R$ 3.800,00 cada.

As vendas acontecerão aqui, galeria virtual de Arnaldo Dias Baptista, na aba COMPRAR.

A ação quer, ainda, levar o olhar das pessoas para o empirismo incessantemente poético, lúdico e vivaz do artista,  presentes nesta alma e corpo neurodivergentes. E a importância de sua relevância nos despertares essenciais do mundo neurotípico. Parafraseando Alejandro Jodorowsky sobre o artista: uma pessoa precisa ser como Jean Cocteau. Necessita ser muitas pessoas ao mesmo tempo e não apenas uma.

Durante este mês celebrativo, estaremos estimulando, portanto e também, o diálogo com o mercado das artes visuais, e propondo conteúdos nas mídias sobre o reconhecimento e a inclusão mais engajadas e representativas deste setor para artistas self thought e neurodivergentes. Apesar das inegáveis contribuições de galerias, museus, organizações e instituições brasileiras em desinvisibilizar estes artistas e suas obras, ainda vemos aqui uma posição muito modesta. Outro tema proposto será a também modesta presença de mecenas por aqui, diferentemente de outros países, como os europeus e similares, onde atuam em toda a esfera cultural, desde apoiar galerias e espaços de arte locais e seus artistas, até garantir a sustentabilidade de grandes museus, ações estas abraçadas pela sociedade, em atos pró-Cultura. E, ainda, mas sem esgotar o leque, inspirar uma pauta que nos apresente artistas destas vertentes, tanto aqui como no exterior, nos dando um panorama da riqueza e relevância destas obras e seus autores para nossa Cultura, dentro de uma perspectiva inclusiva, como o trabalho de organizações da importância de um Instituto Nise da Silveira e o tardio reconhecimento de Bispo do Rosário, entre outras.

Recente entrevista de Arnaldo Baptista para André Felipe de Medeiros para a Monkeybuzz.

Muitos sintagmas denominativos circundam estas manifestações artístico-visuais: self thought art, outsider art, naïf, arte bruta, folk art. Numa reflexão mais profunda, vemos uma estética que se mantém com códigos similares aos de artistas como Henry Danger (1892-1973) e o multidisciplinar Devendra Banhart. “Nunca se poderá definir com precisão este vasto universo, de força e mitologia únicas, ou reduzí-lo a uma categoria. Como dizia Jean Dubuffet, ‘a arte por essência é novidade… Só um regime é salutar à criação artística: o da revolução permanente”, escreveu Juliana Freire para o texto curatorial da individual de Arnaldo, Lentes Magnéticas, na Galeria Emma Thomas (2012), em São Paulo, exposição que resultou na maior cobertura de mass media nos últimos dez anos daquela época, como nos contou a Lema, que assinou a assessoria em comunicação da mostra.

“Conhecer a produção visual de Arnaldo Dias Baptista é dar um passo adiante na mente fascinante de um artista que está sempre preparado para colocar em risco a nossa confiança excessiva na lógica, convidando-nos a desfrutar de sua visão de mundo poética e singular”, escreveu Rodrigo Moura, curador do Solo-Project, que aconteceu na SP-Art de 2014, quando convidou Arnaldo para fazer parte dos nove artistas convidados para esse recorte daquela 10ª edição da feira.

Entrevista com Arnaldo para a exposição “Lentes Magnéticas” (2012)

Artista mais conhecido por sua marcante e revolucionária influência na música jovem brasileira, tanto aqui como no exterior, o multinstrumentista, compositor, cantor, escritor e artista visual Arnaldo Dias Baptista passou a incluir a pintura no leque de sua vasta e incessante criação diária a partir dos anos 80. Estima-se que, desde então, tenha criado mais de 3 mil obras em telas, papelões paranás, cansons… além de diversos outros suportes que vai encontrando pelo caminho. Esta ação quer, também, impulsionar o projeto de catalogação desse acervo, oferecendo a curadores, museus, galerias e outras organizações caminhos para realizarem mostras e projetos a partir de uma visão mais ampla e informada sobre o cosmos onde habitam estas obras e seu autor.

“Ainda que, à primeira vista, o trabalho de Arnaldo Dias Baptista evoque a extravagância cromática, percepção sinestésica do mundo e inversão de planos presentes na estética psicodélica, no prisma criativo de Arnaldo não é possível encontrar o arquétipo do artista divorciado do mundo e fiel apenas aos imperativos de sua obra. Mesmo trabalhando com um inconsciente – criador por definição –, que proporciona espontaneamente suas próprias fórmulas, Arnaldo desenvolve sua produção visual como um homem-artista liberto em relação à sua época, realidade, normas, técnicas e gosto de seu tempo. Acima de tudo, Arnaldo é contemporâneo e sua produção expressa o sumo de sua relação com o mundo”, escreveu Mariana Coggiola, curadora da exposição Uma Pessoa Só, no Epicentro Cultural (2015), em São Paulo.