Gurum-Gudum – Entre Fadas e Travesseiros Travessos
7ª. Exposição Individual de Arnaldo Dias Baptista
Até 14 de março de 2025.
CaSa SLAMB
R. Mateus Grou, 106 – Pinheiros, São Paulo.
Horários de visitação:
Segundas, quartas, quintas, sextas, sábados e domingos, das 15:00 às 18:00hs. Fecha às terças.
Outros horários: via agendamento de horário no whatsapp (11) 95552-5573.
A CaSa SLAMB entará em recesso de 22 de dezembro a 5 de janeiro de 2024 e de 14 a 27 de janeiro de 2025.
Classificação: Livre
Curadoria: Lucas Pexão e Roger Valença
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“Sou um ser que faz parte de uma humanidade religiosa e careta, e que às vezes encontra uma estrada aberta à minha frente, de onde tento extrair aquilo que tem de melhor diante de mim… Tenho muitos apetites e alimentações… Às vezes me sinto um moleque em frente do papel”
Alinhada com a Ação Celebrativa Arnaldo Baptista 7.6 – 76 Anos, 76 Obras, a CaSa SLAMB apresenta Gurum-Gudum – Entre Fadas e Travesseiros Travessos. A exposição contará com 76 pinturas em acrílico e mixed media sobre papelão paraná, de 32×40 cm, produção iniciada durante a pandemia. As obras estão à venda aqui, neste link da galeria virtual de Arnaldo. A mostra apresenta, ainda, cinco telas.
Na abertura, no dia 12 de dezembro de 2024, foi realizada uma oficina de arte com crianças de 3 a 12 anos, quando tiveram a oportunidade de experimentar diferentes materiais e criar juntas, em uma troca artística que celebra a relação de Arnaldo com o universo lúdico, tanto em canções como “Gurum Gudum”, quanto em suas obras visuais.
O nome da mostra vem de duas referências: “Gurum Gudum”, uma música de Arnaldo do álbum Let It Bed (2004), inspirada numa canção que seu avô cantava para ele quando criança, e “Entre Fadas e Travesseiros Travessos”, que remete a um comentário de Arnaldo sobre seu processo criativo durante a criação das ilustrações para O Mágico de Oz, edição Antofágica (2023).
Segundo Artur Slama, curador da CaSa SLAMB para esta exposição, “A arte de Arnaldo traz uma energia, algo que expande, pulsa, que vitaliza o corpo, a alma e o espírito. Nos leva para outras esferas e regiões, que incorporam o ser em formas mágicas. O brincar, o jogo, o ser criança eterna, ‘Peter Pan’, a explosão da presença, super novas, a habilidade de transpor o invisível em cores e movimentos, transmutam o que existe de essência entre o que vive a CaSa SLAMB e o que transborda em Arnaldo Dias Baptista – seu Exorealismo, sintonizado em uma antena que atinge universos e reverbera em infinitos.”
“Na obra pictórica de Arnaldo, a fusão de realidades transforma o comum em algo fantástico – o corpo humano em paisagem, a paisagem em travesseiro, os animais em seres mitológicos, e assim sucessivamente –, até que a ciência se transmute em misticismo e, finalmente, de volta em ciência.” diz Roger Valença, que assina o texto curatorial, reproduzido, na íntegra, no final. Roger divide a curadoria da exposição com Lucas Velloso.
Conhecido principalmente por sua grande influência na música jovem brasileira, Arnaldo Dias Baptista se revelou como artista visual desde os anos 80, criando mais de 3 mil obras em diferentes suportes. Esta exposição também tem o objetivo de impulsionar o processo de catalogação desse acervo e estimular curadores, museus e galerias a desenvolverem novos projetos a partir de uma visão mais ampla e informada sobre o cosmos onde habitam estas obras e seu autor.
“Arnaldo desenvolve sua produção visual como um homem-artista liberto em relação à sua época, realidade, normas, técnicas e gosto de seu tempo. Acima de tudo, Arnaldo é contemporâneo e sua produção expressa o sumo de sua relação com o mundo”, escreveu Mariana Coggiola, curadora de Uma Pessoa Só, 4ª exposição individual de Arnaldo, no Epicentro Cultural (2015), em São Paulo.
Entre os curadores que já assinaram exposições individuais de Arnaldo estão Rodrigo Moura (Solo-Project|10ª SP-Arte, 2012) e Márcio Harum (“Exorealismo”, Galeria Emma Thomas, 2014 e “Transmigração”, CAIXA Cultural São Paulo, 2016).
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A Ação Celebrativa Arnaldo Baptista 7.6 – 76 Anos, 76 Obras faz parte do incessante trabalho levado por sua equipe para a preservação, valorização, acesso e continuidade de sua obras e seu legado.
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A CaSa SLAMB tem como principal objetivo evidenciar a criança que existe dentro de cada um de nós. Seu trabalho traz as múltiplas modalidades das artes de forma inclusiva, através de aulas e programas de teatro, audiovisual e da galeria de arte.
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Links de referência
Biografia cronológica: https://arnaldodiasbaptista.com.br/cronologia/
Vídeo entrevista com Arnaldo, Artur e Roger, sobre esta 7ª Individual: https://www.youtube.com/watch?v=wr_Wyik2oFQ
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Outros conteúdos com Arnaldo falando sobre seu processo criativo:
Entrevista para o lançamento da 1ª expo individual, Lentes Magnéticas, 2012, Galeria Emma Thomas, São Paulo: https://www.youtube.com/watch?feature=shared&v=avdMKni5uQc
Arnaldo assina apresentação para a edição de O Mágico de Oz, pela Antofágica, para o qual também fez as ilustrações: https://arnaldodiasbaptista.com.br/2023/11/03/ilustracoes-e-apresentacao-de-o-magico-de-oz/
Sobre os trabalhos, parte do Catálogo de VIX Estórias Capixabas: https://arnaldodiasbaptista.com.br/2021/12/16/catalogo-de-vix-estorias-capixabas/
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Texto Curatorial
ARNALDO DIAS BAPTISTA NA CASA SLAMB
Gurum-Gudum: Entre Fadas e Travesseiros Travessos
por Roger Valença
“Fui andando no caminho e encontrei uma coruja”, canta Arnaldo Dias Baptista na música Gurum Gudum, presente no álbum de 2004 intitulado Let It Bed. A canção que agora empresta o título à exposição organizada pela CaSa SLAMB, vinte anos depois, nos dá uma pista de que caminho seguir para adentrar no universo particular deste artista-lenda brasileiro: o bicho é o psicopompo.
O coelho branco é o guia espiritual de Alice em direção às Maravilhas. Também é o cachorrinho Totó que, ao fugir, acaba conduzindo Dorothy em direção ao reino encantado de Oz. Fora do mundo cotidiano e mergulhadas na fantasia, essas personagens atravessam o processo de individuação, onde a ordem da vida é subvertida em nome do sensorial. Na obra de Arnaldo, um coelho, um pássaro verde de bico alongado ou um javali, entre outros guias misteriosos, encarnam os signos desta viagem.
Na obra pictórica de Arnaldo, a fusão de realidades transforma o comum em algo fantástico – o corpo humano em paisagem, a paisagem em travesseiro, os animais em seres mitológicos, e assim sucessivamente –, até que a ciência se transmute em misticismo e, finalmente, de volta em ciência: “sou um ser”, dizia Arnaldo em uma entrevista, “que às vezes encontra uma estrada aberta à minha frente, de onde tento extrair aquilo que tem de melhor diante de mim”.
Através de obras elaboradas com tinta acrílica e mixed media sobre papelão paraná ou sobre tela, Arnaldo conjura desenhos escultóricos de tonalidades efervescentes: amarelo limão, rosa choque, laranja fluorescente e assim por diante. Com uma fisicalidade pronunciada, em manchas gordas de tinta que se apresentam quase tridimensionais, a composição imagética de Arnaldo é antes de tudo da ordem da sensação.
Em Gurum Gudum, tudo o que é sólido se desmancha no ar. Figuras encerradas por quadrados e ângulos retos extrapolam seu confinamento através da vibração cromática. Tudo parece se encontrar no limite entre uma realidade e a próxima, em estágios de representação que mesclam o figurativo e o abstrato, como se o olho humano fosse capaz de enxergar vibrações invisíveis da luz e, enfim, decifrar as forças misteriosas que regem a nossa realidade por debaixo dos panos.
“Hojé é dia 36”, cantava Arnaldo Baptista nos anos sessenta, sugerindo com isso uma extrapolação do calendário, a frugalidade da vida cotidiana como uma barreira a ser transcendida. Agora, aos 76 anos de idade, com seu estilo muito livre e singular, ele transita entre convenções, realidades e desejos a fim de tornar visível – como uma “Vela que Revela”, nome de uma de suas telas – a maravilha que é capaz de enxergar no mundo.
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